Quando descobri que tinha um pai.

Hoje o Meninice de Menina só existe mediante algumas coisas que vivi, tive que aprender por vezes sozinhas e por outras algumas pessoas precisaram me mostrar. Lições tristes, outras nem tanto!
Na minha adolescência eu perdi um pai, mas antes que ela chegasse ao fim, eu descobri que tinha um pai.

Se você me conhece a mais de seis anos, ou teve a oportunidade de conversar sobre mim, sabe e entende: eu não sou flor que se cheire. É isso mesmo! De fato não sou e acredite, eu era bem pior. Não escrevo isso com sorrisos no rosto e muito menos com o coração alegre, perdi muito sendo assim, mas sempre a tempo de começos e recomeços.

Nos meu onze a doze anos começou a minha crise existencial. Uma pré adolescente que tinha muitos (vários mesmo) problemas de saúde, magra demais, cabelos meio cacheados, meio lisos. Menina estranha, essa é a palavra. Em uma casa cheia de mulheres, quatro para ser exata, e um homem, que nos meus 12 anos perdeu a função, identidade e sentimentos por mim. Eu o chamava de qualquer coisa, menos de pai. Um sentimento de rejeição com uma falta de proteção me rodeava. A falta de alto estima nunca foi segredo pra ninguém - estou tentando mudar isso - e ele, ah... ele era só um estranho morando na mesma casa que eu.

Aos 15 anos, um sentimento de independência e liberdade me encontrou, fiz desse sentimento meu aliado e cai, cai por milhares de vezes e não vi. As brigas se tornaram cada vez mais intensas, a auto confiança de pensar que eu era melhor que o homem a quem eu deveria chamar de pai me transbordava, estar cheia de mim mesma me fez afogar e morrer afogada aos poucos de tanto "eu" que havia em mim. Gritos, tapas, sangue, tumultos e tudo que imaginar era formado quando o meu eu se encontrava com o eu dele. Era um choque, era um caos. 15 anos. Expulsa de casa por três vezes, nos braços dele, marcas da minha unha. Aos 15 anos cheia de si, de dor, de maldade, de ódio. Aos 15 anos sem pai, com um pai. Aos 15 anos sem imagem de um homem, me entreguei pra qualquer um que achasse algo de interessante em mim. Aos 15 anos, um namoro falido, apenas uma válvula de escape, Aliás, estar em casa era o último lugar que eu poderia chamar de lar.

Eu conhecia a Deus sim, antes que me pergunte. Mas há fazes da vida que decidimos colocar numa caixa tudo que sabemos a respeito dEle e guardar, bem lá no fundo, deixamos parte do nosso amor por Ele lá dentro também. Eu guardei num lugar bem fundo. Mas Deus é pai e não padrasto e retirou a tampa dessa caixa. Aos 15 anos, terminei de falir um "relacionamento", quebrei o copo cheio do eu e ao menos sabia do que encher, eu não sabia mesmo. Ele, claro, me perdoou. Eu não sabia o que pedir, queria comer a comida dos porcos, não queria ser tratada feito realeza. O Pai me aceitou, me limpou, me serviu  e me deu um pai. Aos 17 anos, eu descobri que tinha um pai. Eu tinha um pai que me aceitou e perdoou, esqueceu quem eu era e me ajudou a construir quem eu sou, regenerada e sobrevivente do meu eu.

Moça, em Lucas 15 conta-se da história de um filho que pediu sua herança para o pai e saiu mundo a fora para curtir. Depois de gastar tudo, ter se sujeitado a mais podres situações e decide voltar para casa do pai, não queria nada, apenas que o pai o aceitasse como empregado. Mas o pai... o pai fez uma festa e comemorou a chegada do filho. Eu demorei para entender que eu tinha um pai, um pai dentro da minha casa, que me amava e como um ser humano, filho de um Pai, ele também errava, assim como eu errei milhões de vezes.

Meus pais - Deus e o Sr. Paulo César de Souza - me receberam de volta e não pense que é um mar de rosas todos os dias, não é! Mas Jesus me fez entender que "honre seu pai e sua mãe" não é escolha, não é em algumas situações, não é quando eu quero. Eu entendi que era todos os dias, em todas as circustâncias, com raiva ou com amor, com chuva ou com sol. a honra não deixa de existir quando usada por um filho e todos, todos somos filhos.

Menina, as vezes você não descobriu que tem um pai, que mora junto com você. Talvez você não se sinta amada, não se sinta parte dessa família. Não faça como eu, não queira pedir sua herança. NÃO SE TORNE ÓRFÃO, QUANDO PODE SER FILHO. Eu fui, eu vivi, eu cai, eu sofri sem meu pai. Eu pulei etapas que faria questão de voltar e vivê-las, mas não há tempo, porém, hoje construo outras histórias, histórias de um livro novo, a história de quando eu descobri que tinha um pai.

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